quinta-feira, 13 de março de 2014

210º CAFÉ FILOSÓFICO_RELIGIÃO E CONHECIMENTO


Durante os meses de março e abril teremos oportunidade de filosofar todas as quartas-feiras às 21h30 no E-Learning Café. O tema desta última sessão (dia 12 de março) foi a Religião e o Conhecimento e a pergunta que deu início ao nosso diálogo, "A fé é um tipo de conhecimento?".

A imagem em cima é do "Triângulo da Filosofia", uma técnica que nos permite traçar as viagens conceptuais que os participantes realizaram durante o Diálogo. As linhas vermelhas representam a trajectória entre o ponto de vista inicial de cada participante sobre os conceitos Religião e Conhecimento e o seu novo ponto de vista no final do Diálogo.



A próxima sessão será dia 19 de março e o tema, "Loucura e Sanidade". A entrada é livre.

Até lá!

Tomás

209º CAFÉ FILOSÓFICO_O QUE É UMA BOA PESSOA?



Todas as primeiras sextas-feiras de cada mês o Café Filosófico no Duas de Letra é moderado pelo nosso amigo Rui Lopes. Desta vez não pude estar presente, mas o Rui enviou-me a transcrição das suas notas pelo que podemos ter uma ideia do que por lá se falou. 


Tomás

Notas de Rui Lopes
Pergunta (por votação): "O que define uma 'boa pessoa'"?
Francisca - (Tentativa de resposta) A capacidade de compaixão, porque isso é que a torna mais facilmente reconhecida pelos outros como 'boa pessoa'.
Rui - (Pergunta) Será que existem 'boas pessoas'? (Hipótese de resposta) Podem não existir.
Carina - (Crítica à pergunta do Rui) É necessário, na mesma, definir 'boa pessoa' para saber se existem.
Francisca - (Outra tentativa de resposta) 'Boa pessoa' é aquela que reconhece em si que pode ser má.
Sebastião - (Tentativa de resposta) A amabilidade, a ajuda e respeito pelos outros, de forma integradora e inclusiva. Uma pessoa altruísta.
Carina - (Pergunta) Podemos definir uma 'boa pessoa' sem incluir valores?
Francisca - (Tentativa de resposta à pergunta da Carina) Não. Temos de recorrer a valores para definir uma 'boa pessoa'.
Sebastião - (Tentativa de resposta à pergunta inicial através de exemplos) Os heróis da História, como Gandhi ou Schindler, são exemplos de 'boas pessoas'.
Tiago - (Tentativa de clarificação) Dentro do conceito de valores devemos distinguir entre 'valores vigentes' é 'valores universais'. Se existem 'boas pessoas', essa avaliação depende de valores universais e não de valores vigentes.
Francisca - (Mais uma tentativa de resposta à pergunta inicial) É uma pessoa bem intencionada, independentemente das consequências.
Tiago - (Tentativa de resposta à pergunta inicial) Toda aquela pessoa que tenta levar a cabo acções Morais com elevado valor. O principal critério será a intenção e o que o indivíduo perspectiva como consequências dessa acção.
Francisca - (Crítica à definição do Tiago) As intenções não são suficientes porque torna possível considerar 'boa pessoa' alguém que comete atrocidades.
Rui - (Sem classificação ) A intenção importa se nos basearmos em valores universais.
Carina - (Pergunta) Como podemos definir 'valores universais'?
Francisca - (Resposta à Carina) Os valores universais definem-se pela regra de ouro - "Faz aos outros aquilo que queres que te façam a ti".
Carina - (Crítica à Francisca) A regra de ouro é problemática, porque cada pessoa pode ter vontades diferentes.
Sebastião - (Pergunta) Será que os grandes ditadores foram/eram boas pessoas em determinados contextos?
Tiago - (Nova tentativa de resposta à pergunta inicial) Avanço uma proposta de valor que concretizo numa máxima : A conciliação optimizada de todos os interesses. Assim, 'boa pessoa' é a que decide levar a cabo a máxima dentro das suas limitações.
Francisca - (Crítica ao Tiago) As limitações podem impedir alguém de ser 'boa pessoa', mesmo que seja possível seguir essa máxima.
Rui - (Pergunta) Independentemente das limitações de uma pessoa, podemos considerá-la 'boa'?
Sebastião - (Tentativa de resposta ao Rui) Todo o ser humano é 'boa pessoa'. (Não conseguiu apontar razões).
Tiago - (Clarificação da sua resposta) Existe uma diferença entre o que se pode fazer - que é limitado - e o que se decide fazer. Uma pessoa é tanto melhor quanto menor for a diferença entre o que decide fazer e o que pode fazer.
Francisca - (Mais uma tentativa de resposta à pergunta inicial) A capacidade de ser compassivo. Aos olhos de quem beneficia de uma boa acção, se for eficaz, não interessa a quantidade do bem feito.
Tiago - (Crítica à Francisca) Parece-me haver uma contradicção, ao caber à pessoa beneficiada pela acção - em vez da pessoa compassiva - o juízo da capacidade para seguimento da máxima.
Francisca - (Exemplo) O Bill Gates é uma 'boa pessoa' até certo ponto. Trata-se de uma questão de grau.
Sebastião - (Nova tentativa de resposta à pergunta inicial) Aquela que tenta optimizar o meio em que se insere.
Carina - (Pergunta relativa à afirmação de que 'todo o ser humano é 'boa pessoa') A afirmação refere-se a 'ser humano' pensando em valores humanitários ou bondade inata do ser humano?
Sebastião - (Hipótese para problematização das respostas adiantadas) Pode haver pessoas que cometeram atrocidades e, por isso, consideradas 'más pessoas', mas que acabaram por ter efeitos históricos positivos / pedagógicos.
Francisca - (Hipótese) Em potência somos todos boas pessoas. Mas as circunstâncias potenciam ou impedem a concretização.
Tiago - (Crítica à hipótese da Francisca) Em potência somos todos más pessoas pelas mesmas razões.
Francisca - (Resposta à crítica do Tiago) Concordo, porque vemos nas crianças, eventualmente, tendência para a maldade. É o ambiente e a biologia que determinam uma 'boa pessoa'.
Rui - (Crítica à intervenção da Francisca, problematizando-a) Isso tira poder de decisão ao indivíduo. As pessoas podem não querer ser boas.
Tiago - (Hipótese) A adopção de uma ética pode ter causas diferentes.
FIM DO DIÁLOGO 

domingo, 5 de janeiro de 2014

201º CAFÉ FILOSÓFICO_O QUE É UM SER HUMANO



O desafio era encontrarmos os critérios que fazem de um ser um "ser humano". Um desafio bastante complexo, como referiram alguns participantes no final do diálogo, uma vez que os critérios que iam sendo avançados pareciam umas vezes não ser necessários (ter pensamentos, capacidade de sentir emoções, de auto-reflexão, etc.), outras suficientes (viver em sociedade, sentir amor por outros seres, etc.) e outros eram simplesmente circulares logo não informativos ("é ser humano todo o ser que pertence à classe dos seres humanos").

Ao aprofundar criticamente os vários critérios de "humanidade" estávamos a fazer algo que em Filosofia com Crianças costumamos chamar de "esticar o pensamento", ou seja, estávamos a percorrer argumentativamente os limites do conceito de "ser humano" até zonas que muitos poderão considerar absurdas: 

- Hitler pode ser considerado "ser não-humano"? 

É esta noção de filosofia que favorecemos no Café Filosófico, um jogo onde, desde que se cumpram as regras do Diálogo civilizado, todas as ideias são permitidas e onde o absurdo e o estranho não é visto como uma obstáculo ao filosofar mas antes como uma forma de o pensamento movimentar-se livremente.

Fotografias: José Rui M. Correia
Newsletter: clubefilosoficodoporto@gmail.com


O "Duas de Letra" recebe o Café Filosófico todas as primeiras sexta-feiras de cada mês às 21h30. 
Moderação: Rui Lopes


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

198º CAFÉ FILOSÓFICO_OS URBANOS SÃO MAIS CULTOS QUE OS RURAIS?


Treze amadores da filosofia sentados em círculo rodeados e observados por 17 rostos de homens e mulheres, sobretudo velhos e velhas, de aldeias de Trás-os-Montes que, como escreve a Chantal Guilhonato no texto em baixo, "não falam mas inspiram."
No círculo os filósofos começaram por discutir se os "urbanos" são mais cultos do que os "rurais". Depois procuraram saber quem é mais "puro" e mais "livre". 
Indiferentes a tudo isto os 17 rostos continuam nas paredes da Casa do Alto, até ao dia 11 de Janeiro quando termina a expsoição de fotografia "A VIDA É UMA COISA IMENSA" do nosso amigo José Rui Moreira Correia.





"Ementa Filosófica

Entrada:
Prazeres salteados
(Servidos no 5º aniversário do Café Filosófico – Livraria Leitura)
Estaladiço egoísmo recoberto por uma fina camada de altruísmo.

Prato Principal
Soufflé de estrelas
(Servido no 197º Café Filosófico – Planetário do Porto)
Morte soprada envolta por aéreas claras de vida.

Sobremesa
Suspiros de gente
(Servida no 198º Café Filosófico – Casa do Alto)
Crocante de tradições.

«...A vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem». Quando recordei estas palavras do Torga, nas quais o Zé Rui se inspirou para dar nome à sua exposição fotográfica, imaginei um estômago sem fim.

Com apetite, sento-me, em círculo, na Casa que fica no Alto. Conto rapidamente 13 pares de olhos.

À nossa volta, são mais numerosos, 17 no total. Rostos de Trás-os-Montes capturados, quase sempre, a preto e branco.

Não falam, mas inspiram-nos a todos.

Surgem perguntas:
- Estas pessoas são felizes? (Zé Rui)
- Faz sentido ter medo de envelhecer? (António)
- O Homem rural é mais puro que o Homem urbano? (João Paulo)
- Quem tem mais a aprender com quem? (Tiago)
- A morte destas pessoas representa a morte de uma tradição? (Rui)
- A pose destas pessoas (fotografias do Zé Rui) é uma encenação? (Filipe)
- Faz sentido ter pena destas pessoas? (Tiago)
- Quem é mais culto? (Tomás)?
- Há arte por acaso? (António)
- Quem é mais livre? (João Paulo)

e pensamentos para a pergunta mais votada «Quem é mais culto?».

Surgem contornos de um Nova-iorquino a perguntar caminho à aldeã montada no dorso de um burro acomodado.
- Mais civilização é sinónimo de mais cultura? (reformulação da pergunta inicial do António, se cultura seria um sinónimo de civilização).
- Quando falamos de cultura é de um ângulo quantitativo ou qualitativo? Tiago que avançou com uma resposta à pergunta inicial: é a aldeã porque tudo aquilo que ela sabe tem a ver com as suas necessidades.
- Porque é que a cultura que tem a ver com necessidades é mais valiosa que outro tipo de cultura? (Rui)
- Cultura é algo que nos transcende e que não tem a ver com o que se faz no dia-a-dia. A cultura eleva-se às necessidades (Filipe).
- O que define a humanidade? (Luís)
  • Costumes = respeito pelas tradições vs cultura urbana = progressão no tempo (Carlos)
Não sei o que «A Pastorinha Glória» está a achar de tudo isto mas, e ao observá-la, percebo porque debatemos a segunda pergunta formulada no início: «O Homem rural é mais puro que o Homem urbano»?
- Não, pode ter menos vícios mas não passa de uma diferença de parâmetros (Carlos)
- Não há mais pureza nem de um lado nem do outro (João Paulo)
- No mundo rural existe uma maior pressão social pelo que as pessoas não podem ser verdadeiramente autênticas. No mundo urbano, e fruto de um maior anonimato, as pessoas são mais autênticas (António).
- Pureza: estar mais perto dos primatas
- Pureza: estar em harmonia com a natureza (Luís)

Se o Nova-iorquino subisse para cima do burro e a aldeã fosse levada para o Central Park, quem sobreviveria melhor?

«Depois do Calor», o que se ouve? Bach, Tony Carreira ou uns Batuques?
- Cultura é mais do que arte, tem outras valências (Luís)
- Pureza: despojamento de superficialidade (Chantal)
- O Homem urbano é mais puro porque tem mais consciência de si mesmo (Ricardo)
- Há culturas superiores e inferiores? Se sim, Hitler poderia ter razão? (João Paulo)
- Há cultura superiores porque procuram promover um maior bem estar para um maior número de pessoas (Rui)
- Apesar de se constatar que existem culturas superiores e inferiores, isso não legitima que se possa acabar com as culturas inferiores (Tiago).
- Há culturas que de tão inferiores (como a nazi) merecem ser eliminadas? (Tomás)
- Sim, se essa cultura for responsável pela eliminação de outra(s) cultura(s) (Tiago)
- Existe uma confusão entre cultura e quem a pratica. Deveria assim ser eliminada a cultura nazi e não o povo nazi (João Paulo)
- Em vez de eliminação, referir-mo-nos a «abranger» uma cultura noutra de forma a fazê-la «desaparecer» (Luís)

«Quem é mais livre»? As gentes de vinhais ou nós?
- Quem for mais feliz, neste caso os rurais que estão em contacto com a natureza (Guiomar)
- E os condicionamentos provocados pela natureza, como o frio? (Rui)
- (retomando a ideia anterior do António): o urbano é mais livre porque sofre menos pressões sociais (João Paulo)
- Tudo depende do uso que se fizer da sua liberdade (Guiomar)
- Um homossexual na cidade sofre menos constrangimentos (Tiago)
- Na sociedade urbana não existe maior liberdade mas sim uma ausência de uma comunidade coesa. Trata-se portanto de uma liberdade por ausência (Guiomar)
- Na sociedade urbana também existem comunidades, como os góticos (João Paulo)
- Antigamente, as pessoas não tinham escolha. Nasciam e morriam no mesmo local. Isso hoje já não acontece pelo que podem escolher (Guiomar).

Enquanto bebemos um Porto, duas senhoras vivem «no presente o passado» enquanto tecem.

Obrigada Zé Rui por esta inspiradora viagem no tempo e obrigada Luís por nos teres recebido na Casa do Alto."

Texto de Chantal Guilhonato
Foto de José Rui Moreira Correia

domingo, 8 de dezembro de 2013

196º CAFÉ FILOSÓFICO_O NADA EXISTE?


É no Duas de Letra que nos encontramos para filosofar todas as primeiras sextas-feiras de cada mês. 
A moderação deste Café Filosófico cabe ao Rui Lopes que nos desafiou a escolher uma de três perguntas para dar início ao nosso diálogo.



- O Nada Existe?
- A ciência é como uma religião?
- Há pensamento sem linguagem?



Escolhida por votação a primeira pergunta as duas horas seguintes foram passadas em torno de definições de "nada" e  de "existência", mas também de tentativas de respostas, hipóteses, exemplos, contra-exemplos e experiências mentais com buracos e relógios sem roldanas.



No final do Café Filosófico cada um de nós avançou uma última tentativa de resposta à pergunta inicial. Aqui vai a minha:



"O Nada existe pois é algo que influencia o Ser limitando-o. Neste Café Filosófico descobri que não devemos opôr o conceito de Nada ao conceito de Tudo, como é comum, mas sim ao conceito de Ser, pois o Tudo abarca o Ser e o Nada."



Como é normal para quem frequenta estas andanças dos Cafés Filosóficos, não vejo esta resposta como uma conclusão definitiva mas antes como um pretexto para continuarmos a pensar sobre este assunto. 



Melhor que nada...

Fotografias: José Rui M. Correia

Newsletter: clubefilosoficodoporto@gmail.com

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

195º CAFÉ FILOSÓFICO_RAPIDINHAS FILOSÓFICAS


Normalmente, num Café Filosófico, procuramos contrariar o turbilhão de ideias e pensamentos que nos invadem no quotidiano e favorecemos a lentidão à velocidade, a profundidade à superfície e o diálogo à mera troca de ideias. Isso é o que fazemos normalmente. Ontem, na FNAC do Gaiashopping, resolvemos fazer precisamente o contrário. Não nos limitamos a um tema, um problema ou uma pergunta mas, durante uma hora percorremos uma bateria de dez perguntas, uma espécie de "rodízio filosófico" ao final da tarde.




O exercício decorreu da seguinte forma. Começou por ser proposta uma pergunta e os participantes eram convidados a reflectir e conversar sobre ela durante aproximadamente cinco minutos. Passado esse curtíssimo espaço de tempo era colocada outra pergunta (não necessariamente com ligação com a anterior)
e o processo repetia-se.



Este encadear rápido e sucessivo de perguntas permitiu-nos ouvir bastantes pontos de vista e argumentos sobre uma série de problemas e perplexidades filosóficas.



Para muitos (incluindo para mim) foi uma experiência filosófica diferente, não fomos capazes de aprofundar verdadeiramente nada, mas por outro lado, contactamos com uma diversidade grande de ideias e vislumbrámos possíveis linhas de investigação que seguramente iremos percorrer no futuro.



As perguntas propostas neste Café Filosófico foram as seguintes:

1 - Os buracos existem?

2 - A Felicidade é uma questão de sorte?

3 - Seria bom viver para sempre?

4 - A morte é um mal?

5 - O mal é subjectivo?

6 - Somos a mesma pessoa a vida toda?

7 - O passado é real?

8 - Devemos sempre agir correctamente?

9 - Matar inocentes é sempre errado?

10 - É racional acreditar em Deus?




sábado, 23 de novembro de 2013

194º CAFÉ FILOSÓFICO - EGOISMO / ALTRUÍSMO

Livraria Leitura, Porto

"Qual é mais natural ao homem, o egoísmo ou o altruísmo?"

Fotografias: José Rui Moreira Correia

CAFÉ FILOSÓFICO - 5 ANOS


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

187º CAFÉ FILOSÓFICO_VERDADE OU MENTIRA?


Pergunta deste Café Filosófico: 
"Verdade e Mentira têm o mesmo valor?"

Sobre o que conversarão duas poltronas abandonadas ao canto de uma sala?
A pergunta surgiu-me hoje ao ver esta fotografia do Zé Rui
Depende dos traseiros, pensei. Os bem comportados, que exultam verdades, e os outros.
Olhei de relanço para trás das costas antes de voltar à questão central: verdade e mentira têm o mesmo valor? Reflectiu-se acerca disso num espaço novo, com um moderador novo, pelo menos para mim. Duas de Letra sob a égide do Rui André.

Tiago: quando falamos em valor, a que nos referimos?
Guiomar: qual o valor da verdade e qual o valor da mentira?
Salomé: o que é a verdade e o que é a mentira? A partir desta definição, poderemos atribuir um valor a cada um.
Dulce (em resposta ao Tiago): valor é consistência, verdade...
Tomás (em resposta ao Tiago): valor é o que é benéfico para o ser humano.
Patrícia (em resposta ao Tiago e contrapondo o Tomás): valor é o impacto gerado, que não será necessariamente benéfico.
Francisca (em resposta à questão inicial): verdade e mentira podem ter o mesmo valor pois ambos podem ter impacto positivo ou negativo.
Lurdes (avança com uma definição de verdade): uma tradução exacta do real. Mas como isso não é possível, a verdade será tão mais verdadeira quanto mais se aproximar da realidade.
Chantal (em resposta à Lurdes): o que é a realidade?
Jorge (em resposta à Chantal): a realidade são os factos.
Guiomar (em resposta ao Jorge): a realidade vai para além dos factos.
Marília (em resposta ao Jorge): a realidade não são factos porque depende de percepções.
Francisca (em resposta à Marília): há a realidade de quem constata o facto.
Tiago (em resposta à Francisca): há duas visões diferentes que afectam de forma diferente as duas pessoas. Perante o mesmo facto, existe assim o facto em si e as interpretações do mesmo.
Lígia (pergunta à pergunta inicial): porquê que se está a opor verdade e mentira em vez de verdade e falsidade? Verdade/Falsidade: nível da lógica vs Verdade/Mentira: nível da ficção e do documental.
Tomás (em resposta à Lígia): não vê oposição mas dois conceitos próximos.
Inês (em resposta ao Tiago): valor é a capacidade de estimular o desejo.
Lurdes (em resposta à pergunta inicial): não, não têm o mesmo valor e só têm sentido para os seres humanos. A sociedade baseia-se no sentido de justiça. Como seria aplicável o sistema jurídico se a verdade e a mentira tivessem o mesmo valor? Seria um caos.
Raquel (em resposta à pergunta inicial): verdade e mentira têm o mesmo valor porque o que é mentira para uma pessoa pode ser verdade para outra, dado que a percepção dos factos é subjectiva.
Alexandre (em resposta à Lurdes): como justifica o caos se verdade e mentira tivessem o mesmo valor?
Lurdes (em resposta ao Alexandre): o caos é um elemento caótico! Refiro-me antes à aplicabilidade da justiça.
Tiago (em resposta à Lurdes): exemplo de dois países que vão entrar em guerra. A diplomacia exerce uma mentira para evitar essa mesma guerra. Essa medida, apesar de nascer de uma mentira, acabaria por ser mais justa.
Francisca: se o facto não é reconhecido como facto que é, ele então não passa de uma mentira. O facto tem de ser filtrado para ser revelado.
Guiomar (em resposta à Francisca): a realidade não é relativa. O Valor da realidade não é relativo. A verdade é geradora de uma relação de confiança, necessária à vida em sociedade.
Inês (resposta à pergunta inicial): verdade e mentira podem ou não ter o mesmo valor. Depende da situação.
Cruz: concorda com a Inês.
Tomás: no geral, verdade e mentira têm o mesmo valor. Propôs o desafio de se pensar no geral.
Salomé (em resposta à pergunta inicial): considerando o valor como um referencial, verdade e mentira têm um certo impacto positivo ou negativo. A realidade é um facto com diferentes interpretações. A resposta à pergunta é assim relativa.
Patrícia (em resposta à pergunta inicial): sim, têm o mesmo valor. Se valor significa impacto então o valor é o mesmo.
Marília (em reposta à pergunta inicial): não têm o mesmo valor porque a verdade tem mais benefício. A verdade deve sempre prevalecer.
Luís: situação hipotética: existência de um botão que pode destruir o mundo. Uma pessoa pergunta, a quem conhece a resposta, como pode aceder ao botão. Deve dizer-se a verdade a essa pessoa?
Patrícia (em resposta ao Luís): não concorda com a hipótese apresentada nem com a experiência mental do Luís. Pode-se sempre responder «sim sei, mas não digo».
Tomás (em reposta à Patrícia): duas notas: a primeira é de que se não aceita a experiência mental do Luís não deveria ter vindo ao Café Filosófico. A segunda é que a mentira tem mais valor que a verdade porque está mais próxima do ser humano.
O Tomás sugeriu ainda acabar com os «depende».
Jorge (em concordância com o Tomás): sendo a verdade subjectiva, o valor da verdade depende da «cerca» da sociedade.
Lurdes (pergunta ao Tomás): como consegue provar que a mentira está mais próxima do ser humano?
Dulce (em reposta à Lurdes e em concordância com o Tomás): se cada um de nós tem a sua verdade /realidade, então a realidade é uma mentira.
Salomé: pede a Tomás para definir valor.
Tomás (em reposta à Salomé) recorda já o ter feito: é o que é mais benéfico para o ser humano.
Guiomar (em resposta ao Luís): no geral, a verdade tem mais valor porque ajuda à vida mas isso não significa que não haja lugar para a mentira.
Francisca: verdade e mentira estão dependentes de um contexto.
Alexandre (em resposta à Guiomar): a mentira tem mais valor porque ajuda à vida.
Tiago: retoma o exemplo da guerra.
Lígia (em reposta à pergunta inicial): o nosso «drive» é para procurar a verdade. Por isso, a verdade tem mais valor que a mentira.
Sofia: o ser humano tenta atingir a verdade mas não consegue.
Chantal (no seguimento da Sofia): inaptidão do ser humano para chegar à verdade.
Patrícia: Tomás e Chantal vivem então na mentira!?
Tomás (em resposta à Patrícia): sim!
Guiomar: a mentira pode ter valor mas isso não torna em si a verdade boa e a mentira má.
Francisca: a nossa verdade/mentira tem mais valor que a verdade/mentira dos outros, porque estão mais próximos de nós.
Catarina (em resposta à Francisca): o que se pretende dizer com a «nossa» verdade?
Francisca (em resposta à Catarina): é uma verdade para um determinado grupo.
Catarina (em resposta à Francisca): então não há verdades nem mentiras, há interpretações.
Mónica: mentira e verdade são apenas classificações das circunstâncias da vida por parte de cada um.
Tiago (em resposta à Mónica): a verdade é independente da minha experiência: 2 + 2 = 4.
Mónica (em resposta ao Tiago): e se eu não souber contar?
Cruz (em resposta à pergunta inicial): verdade e mentira são a balança da vida.
Jorge(em resposta à pergunta inicial): porque a mentira antecede a verdade para poder se aprendida, a mentira tem mais valor.
Guiomar (em resposta à pergunta inicial): não têm o mesmo valor porque a verdade é o que promove a vida.
Lurdes (em resposta à pergunta inicial): a verdade tem mais valor que a mentira porque a verdade promove o conhecimento.
Alexandre (em resposta à Lurdes): a mentira tem mais valor que a verdade porque a mentira promove a sobrevivência dos macacos.
Tiago: a mentira é uma tentativa de transmitir algo que pensamos ser falso. O que é diferente da sinceridade que será a transmissão de algo que pensamos ser verdade. Verdade e falsidade têm o mesmo valor, mesmo na busca do conhecimento.
Zé Rui: O Pai Natal é verdade ou mentira?
Francisca (em reposta à pergunta inicial): o mesmo valor, porque um não existe sem o outro.
Inês (em resposta à pergunta inicial): têm o mesmo valor porque ambos estimulam o desejo (valor).
Tomás: há mais valor na verdade ou na mentira...?

As poltronas ficaram caladas.

Obrigada Zé Rui pelo teu Olhar.
Obrigada Rui André pela tua Moderação.

Obrigada Mentira diz a Verdade.



Texto: Chantal Guilhonato

As poltronas ficaram caladas, mas nós não.
Obrigado pelo teu texto, Chantal!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

180º CAFÉ FILOSÓFICO NA CASA ANDRESEN (Porto)




"O destino existe?" foi a pergunta que deu início a esta sessão de Café Filosófico do dia 28 de Setembro na Casa Andresen no Porto. 
Este evento foi organizado pelo Clube Filosófico do Porto e pelo Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. A moderação esteve a cargo daquela bolinha amarela nas imagens (ver "Microfone Mágico")

sábado, 13 de julho de 2013

CAMINHADA FILOSÓFICA PELO PORTO


A Caminhada Filosófica é, assim, um pretexto para construirmos analogias, metáforas, espécies de pontes entre o real e o ideal. Nela passeamos sem “tagarelar”, atentos ao que vamos encontrando, ouvindo pontualmente algumas ideias que vão surgindo pelos outros participantes e elevando as nossas experiências mundanas, normalmente pontuais e fugazes, a um patamar mais estruturado e duradouro porque mais consciente.

Ler mais aqui.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

CAFÉ FINOSÓFICO


Dada a pouca afluência "maiata" ao Café Filosófico na Biblioteca Municipal da Maia dirigimo-nos em peso para a esplanada mais próxima onde realizamos um belo Café Finosófico.

Assim se faz Filosofia na Maia!
(com Nuno Paulos Tavares, António Machado, Rui Lopes e Tomás Magalhães Carneiro)

domingo, 30 de junho de 2013

174º CAFÉ FILOSÓFICO_JARDIM BOTÂNICO


"O que separa o Homem do Animal?"

Esta foi a pergunta do último Café Filosófico, o primeiro na Casa Andresen (Jardim Botânico do Porto).
A partir do tema escolhido pelo grupo, "Humanidade/Animalidade", avançámos cautelosamente algumas ideias como a de uma diferença "gradativa" e não radical entre homens e animais, sugeriram-se algumas hipóteses como a de "cultura", "complexidade cognitiva" e "capacidade de abstracção" para distinguir um do outro, mas nenhuma deixou de ser posta em causa e problematizada, pelo que o pensamento não parou por aí.

Ao longo da sessão foram sendo trilhados alguns novos caminhos com novas perspectivas e problematizações sobre o tema: "Somos melhores que os animais", "Existe espírito ou apenas existe matéria?", "O que é o espírito", "Quando surgiu o espírito?"

Como de costume saímos deste diálogo com a sensação de termos andado em círculos procurando compreender um pouco melhor um determinado problema ou aspecto da realidade e de, provavelmente, não termos verdadeiramente saído do sítio. Mas tanto melhor, a Casa Andresen é um "sítio" lindíssimo ao qual iremos seguramente voltar para saborear mais momentos de diálogo como este. Momentos que valem pela própria vivência do diálogo em si e não tanto pelas conclusões a que se chega ou decisões que se toma.

Até Breve.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

172º CAFÉ FILOSÓFICO_CAIS


Desde há alguns meses que um amigo do Café Filosófico, o Rui Lopes, tem dinamizado uma nova Comunidade Filosófica com os utentes da CAIS.
Na última terça-feira convidou-me para moderar um desses diálogos o que aceitei com imenso prazer. 
O que encontrei foi uma comunidade já amadurecida, com gente interessada em dialogar e em escutar-se mutuamente e não apenas em exprimir o seu ponto de vista e mostrar que tem razão.
Um grande abraço para todos os que estiveram presentes nesta sessão e felicidades para o crescimento dessa vossa Comunidade de Filósofos.

Desafio lançado ao grupo no início da sessão: 
- Qual a Pergunta mais Fundamental?

Algumas sugestões: 
- O que é ser Feliz?
- Como ser Feliz?
- Há vida depois da morte?
- A alma serve a ciência?

Pergunta votada como a mais fundamental:
- Deus Existe?

Até à próxima!


quinta-feira, 16 de maio de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

158º CAFÉ FILOSÓFICO_FILOSOFAR A PARTIR DE (QUASE) NADA II


158º CAFÉ FILOSÓFICO - BIBLIOTECA MUNICIPAL DE GONDOMAR

Filosofar não é simplesmente partir dos problemas filosóficos já existentes e procurar dar-lhes respostas. Filosofar é, também, reflectir sobre o "dado", o real, e encontrar no aparentemente óbvio e simples o problemático e o complexo. Filosofar é, sobretudo, problematizar, encontrar problemas.

Este exercício filosófico começa por pedir aos participantes uma interpretação "filosoficamente rica" de um simples desenho no quadro (um círculo com traços em redor).

Entre as várias sugestões o grupo escolheu a seguinte:

- "O cimo de um poço."

A partir daqui procurou-se perceber de que forma é que "o cimo de um poço" nos pode trazer alguma riqueza filosófica.

Entre as várias propostas o grupo escolheu a seguinte:

- O poço representa o Bem e o Mal nas pessoas. 
A escuridão no interior do poço representar o Mal e a luz no exterior representa o Bem.
O "cimo do poço" seria a linha divisória entre o Bem e o Mal.





Explicada a metáfora procurou-se encontrar alguns dos problema que esta escondia.
Dois desses problemas prenderam a atenção do grupo:

- Existe uma fronteira clara entre o Bem e o Mal?

- Quando é que tomamos consciência de que estamos do lado do Mal?

O segundo problema foi o escolhido pela "comunidade filosófica" da Biblioteca Municipal de Gondomar para iniciar um próximo Café Filosófico.






157º CAFÉ FILOSÓFICO_FILOSOFAR A PARTIR DE (QUASE) NADA I


157º CAFÉ FILOSÓFICO (E-LEARNING CAFÉ, PORTO)

Ao contrário do que acontece em outros eventos culturais quem vai a um Café Filosófico não vai lá para ser servido mas para servir. Num Café Filosófico a filosofia e o filosofar estão totalmente a cargo dos participantes e não do moderador que não faz as vezes de "filósofo de serviço" mas de árbitro que zela pelo cumprimento das regras do "jogo filosófico".

Normalmente o problema filosófico é proposto no início de cada sessão (pelo moderador ou pelo grupo) mas este Café Filosófico no E-Learning foi diferente. 

Filosofar a partir do (quase) nada foi o desafio lançado à nossa "comunidade filosófica".

Um desenho no quadro: Uma seta da direita para a esquerda (do ponto de vista do observador); 0 e 2013 no início e no fim da seta.
Uma pergunta: "O que significa?" 

Depois de todos lerem as suas interpretações da "seta" escolheu-se aquela que o grupo (por votação) considerasse "filosoficamente mais rica".

"Aquilo que cada um estiver condicionado a interpretar" 
foi a interpretação escolhida pelo seu carácter abrangente, provocador, profundo, dialéctico (algumas das características filosóficas apontadas pelos participantes).

Com esta interpretação filosófica à nossa frente cabia agora ao grupo levantar-lhe um problema (Problematizar) na forma de uma pergunta por forma a descobrirmos alguma perplexidade filosófica por detrás dela. 
Entre os vários problemas levantados escolheu-se o seguinte:
"Toda a interpretação é apenas fruto de condicionamentos?"

Já íamos com uma hora e meia de Café Filosófico quando finalmente encontrámos a pergunta filosófica que nos ia ocupar durante a sessão (é preciso fôlego para se fazer filosofia) e a partir daqui o Diálogo desenrolou-se de uma forma mais livre (menos estruturada) com os participantes a poderem intervir da forma que quisessem desde que classificassem o que iam dizer (uma pergunta, uma crítica, um esclarecimento, etc.) e mantivessem as suas intervenções breves e claras.
Definiu-se, argumentou-se, refutou-se, exemplificou-se e contra-exemplificou-se. Exploramos uma parte significativa do arsenal filosófico e ainda tivemos tempo para descobrir o que são "marquises filosóficas" (acrescentos a teorias), "argumentos salmão fumado" (argumentos irrelevantes) e "síndromes Titanic" (afundar-se teimosamente numa contradição).


terça-feira, 5 de março de 2013

144º CAFÉ FILOSÓFICO - O FUNDAMENTO DO BEM E DO MAL



Um Café Filosófico é um espaço de reflexão em conjunto, uma oportunidade para ouvir os outros e, dessa forma, conhecermos outras perspectivas sobre um problema. Um Café Filosófico é também uma oportunidade rara de deixar que os outros mudem a forma como pensamos.
Normalmente estamos tão seguros das nossas ideias, valores e crenças que nos achamos na obrigação (moral ou pedagógica) de as transmitir aos outros e de os convencer de que temos razão. Muitas vezes à custa apenas da repetição exaustiva dessas mesmas ideias, valores ou crenças sem que nenhum outro argumento ou justificação seja avançada, como que acreditando que a mera exposição prolongada servirá para converter os outros à nossa verdade.

Julgo que o texto da Chantal que vos deixo em baixo é a expressão de algum desapontamento face a essa atitude tão comum nos Cafés Filosóficos (comum porque "demasiado humana") de se querer ouvir mais que ouvir os outros. 
Um dos objectivos destes Cafés Filosóficos é, exactamente, cultivar uma certa Pedagogia do Diálogo numa cultura onde prevalece o Monólogo.




«É belo escrever porque assim se juntam duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão» (Cesare Pavese). Este pensamento levou-me a um mundo imaginário onde todas as pessoas nasciam sem língua. Bocas grandes com lábios finos e destreinados.
Nesse mundo imaginário, os antigos desenhavam aos mais novos, com letras esculpidas, um mundo desaparecido no qual as pessoas diziam tudo o que lhes passava pela cabeça, a toda a hora.
O relato parecia realmente absurdo e gerara uma série de pesadelos. Durante a noite, as bocas grandes abriam-se para deixar escorrer uma língua longa e rugosa. Sobressalto seguido de alívio ao descobrir que, afinal, a boca estava a salvo, sem qualquer vestígio do nauseabundo músculo indesejado.
Eu não nasci no mundo dos sem línguas e penso por vezes no (des)uso que dou à minha. Quando falo, onde reside a alegria? Na partilha de pensamentos com os outros ou na vaidade de me ouvir? Se a minha língua se visse ao espelho, o que acharia? Francamente nunca a confrontei talvez por temer que ela me cale para sempre.
- Vou engolir-te.
Durante o último Café Filosófico imaginei as línguas que se tentavam empurrar em busca de espaço.
- Vou engolir-te.
Por entre os parcos silêncios, o rebuliço de línguas. Activas, vivas, impacientes, altivas, achadas, perdidas, rendidas...
- Vou engolir-te
Qual é afinal o fundamento do bem e do mal?
Mais línguas. Activas, vivas, impacientes, altivas, achadas, perdidas, rendidas...
As mais sacras dirão que se trata de um chamamento interior, um voto de abnegação em prol dos outros que estão aí para ouvir. Falar até que nos doa. Falar até que vos doa.
- Vou engolir-te...
Alojo-me então num canto da minha garganta seca. Em redor, elas continuam activas, vivas, impacientes, altivas, achadas, perdidas, rendidas...
Num derradeiro esforço, tento engoli-la. Tornar-me uma das sem línguas e partilhar o reino do pensamento pacientemente esculpido.

Chantal 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

COMO CRIAR UMA COMUNIDADE FILOSÓFICA NA TUA RUA


"Os limites do meu grupo são os limites do meu pensamento"


O que é uma Comunidade Filosófica

Uma Comunidade Filosófica é constituida por um número indeterminado de pessoas que se reúnem regularmente com o único fim de melhorar a forma como pensam e dialogam umas com as outras.
Fazer parte de uma Comunidade Filosófica implica uma preferência pelo Diálogo Racional a outras formas mais comuns de pensamento e conversação como o discurso auto-justificativo e adulatório em que a preocupação está mais em insuflar e blindar o ego que em compreender e descobrir a verdade acerca de algum assunto. Numa Comunidade Filosóficanão há também lugar à omnipresente conversa da treta onde o papaguear de frases feitas e códigos sociais ou tribais partihados se substitui à reflexão genuína que cada um deve fazer por si mesmo.
Leia mais em Viral Agenda.com

domingo, 2 de dezembro de 2012

137º CAFÉ FILOSÓFICO (QUATRO ANOS) - A AMIZADE




Há umas semanas atrás um dos participantes num Café Filosófico sugeriu uma questão para discussão que, na altura, foi ignorada pelo grupo. "Se eu cair levantas-me?" foi a pergunta sugerida pelo Filipe Louro.
Eu próprio não achei esta pergunta interessante e não procurei que o grupo a aprofundasse. No entanto talvez por ser uma pergunta um pouco estranha ficou-me na cabeça desde então e frequentemente dava por mim a voltar a ela mais para tentar perceber a sua intenção e significado que para lhe tentar responder.
Vejo agora que ignorar essa pergunta foi um erro pois era uma pergunta nos poderia levar a pensar sobre conceitos que a todos nos dizem muito como solidariedade, amor, amizade, ajuda, etc. E foi a nossa tendência para evitar o "estranho" e procurar o "normal" que nos fez abdicar desta pergunta e escolher outra mais convencional.

Umas semanas mais tarde, num outro Café Filosófico, falou-se da Amizade que deve existir sempre que dois seres humanos se encontram para dialogar pois não há diálogo entre duas pessoas que se ignoram ou se odeiam. E ao pensar nisso essa estranha pergunta do Filipe voltou-se a apresentar ao meu espírito. Essa pergunta fez-me ver que qualquer ser humano que veja alguém cair à sua frente, mesmo um desconhecido, sentirá um impulso para o ajudar a levantar-se. Na realidade poderá não o fazer por inúmeros motivos, mas acredito que esse impulso está presente em todos nós e, acredito também, é sinal de que há um sentimento comum que une todos os seres humanos e que nos leva a querer instintivamente ajudar o próximo. Por que não chamar a esse sentimento Amizade? Essa pergunta fez-me ver que a Amizade pode ser uma coisa efémera e episódica, como uma onda no mar que apenas passa por nós uma vez mas que nos afecta e marca de determinada maneira. Um amigo pode ser assim como uma onda que passa por nós uma vez e nunca mais volta a passar, mas naquela passagem, naquele curta presença, com ou sem diálogo, foi nosso amigo.

Pensava nisso e pensava também nas centenas de amigos que, como ondas, passaram pelo Café Filosófico nos últimos quatro anos. Aqueles que quase sempre regressam quando o fazem já não são os mesmos, são sempre outras ondas quando regressam. E mesmo aqueles que só nos procuraram uma vez e não mais voltaram, também esses foram nossos amigos enquanto mantiveram a disposição de dialogar. Esses apenas deixaram de ser nossos amigos até ao próximo Café Filosófico, quando nos procurarem de novo para dialogar. Lá estaremos à sua espera.

A Chantal é uma daquelas ondas que insiste em bater na praia e regressar uma e outra vez ao Café Filosófico. É uma amiga que esteve em muitos dos nossos encontros e, talvez por isso, tenha a sensibilidade apurada para as pequenas grandes coisas que se passam num Café Filosófico. Essas "pequenas grandes coisas" são aquelas que normalmente existem nos interstícios da discussão principal e que pouca gente dá por elas mas que são verdadeiramente o que dá um sabor especial e único a cada Café Filosófico. Neste último Café Filosófico a Amizade foi uma dessas "pequenas grandes coisas".

Deixo-vos a prenda que a Chantal nos deu a todos do Café Filosófico pelo nosso 4º Aniversário.
Um pequeno texto sobre o "tempero das palavras" que tanto valorizamos nos Cafés Filosóficos e uma imagem do "caminho que ainda temos a percorrer."
Não sei se a Chantal pensa assim, mas para mim aquela é uma montanha que nunca iremos escalar. O caminho é demasiado bom para o deixarmos para trás!




Chantal Guillonato
«O que sabemos: palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos:
palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só uma frágil
e insegura palavra» (M.A. Pina).
Ditas às escuras, com pausas estreladas, ou à luz de um terceiro
andar. Palavras. Irrequietas, impacientes, teimosas, velozes.
Palavras. Tantas vezes trincadas em prol de uma maltratada fome de
conhecimento. Palavras. Que observadas de perto, são formas vivas, com
contornos por definir. Quatro anos em que me/nos tens ajudado Tomás. A
trepar métodos e pensamentos. A temperar palavras. Gosto cada vez mais
delas, sobretudo as silenciosas. As que nos vão trepando pelo corpo à
procura de uma saída de emergência. Fecha-te Sésamo. Palavras. Que
presas ganham, com o passar do tempo, um sabor especial a impulso
sublimado.
Palavras. Que dançam quando bem conduzidas. Gosto cada vez mais dos
passos. Palavras. Que vão ficando em segundo plano. Quem diria.
Palavras. Que caminham sem pressa de chegar.
«Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a esfinge. A
verdade, porém, não é a esfinge, a verdade é o medo; a esfinge é só a
imprecisa forma do nosso medo» (M.A. Pina).
Obrigada Tomás por seres nosso amigo.

Chantal